sábado, 3 de janeiro de 2009

Entrevista: Bernardino Barros: “A vida de um homem é escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho”


Jornalista, comentador, mas acima de tudo um apaixonado pelo desporto, Bernardino Barros confessa ser “um homem de paixões.”

Adriano Cerqueira

Dos primórdios da sua carreira no Norte Desportivo, a editor da secção de desporto do Comércio do Porto, Bernardino Barros passa agora os seus dias entre o Porto e Vila Real, onde trabalha na organização de eventos.

Apesar de nunca ter o jornalismo como a sua principal fonte de rendimento, Bernardino Barros está desde 1975 ligado ao meio. Iniciou a carreira no Norte Desportivo mas cedo ingressou no Comércio do Porto. TSF, Rádio Renascença, RTP, SIC, SportTV, NTV e Porto Canal, foram os restantes media por onde passou.

Natural de Vila Real mudou-se para o Porto aos 3 anos, contudo nunca largou as raízes e considera-se mais transmontano que tripeiro. Tendo como cenário um pequeno café da zona de Cedofeita, onde reside, Bernardino Barros revela um pouco da sua história e dos seus sonhos para o futuro.

Mercúrio do Porto: Está há muitos anos ligado ao jornalismo. O que o fez começar nesta profissão?
Bernardino Barros: O impulso, não sei... Sempre gostei de escrever, sempre gostei de estar ligado ao desporto de algum modo. Quando tinha 20 anos surgiu a oportunidade de colaborar no Norte Desportivo, embora a maneira de trabalhar lá não me agradasse muito. Depois de lá estar a fazer um ou outro jogo da 1.ª divisão, fiz a proposta de fazer só Juniores e Juvenis, que era uma coisa que eles não tinham. Para mim era melhor estar fora a ver o jogo, a analisar, a escrever sobre ele do que estar fechado dentro de uma sala a tentar escrever sobre um jogo que não víamos, mas que ouvíamos nas rádios. O Norte Desportivo, ao domingo saía com a constituição das equipas e com um resumo curto de cada um dos jogos que nós ouvíamos pela rádio. Foi aí que eu comecei, depois a partir daí surgiram novas oportunidades, mas nunca fiz da comunicação social o meu principal meio de sobrevivência.

MP: Que outros empregos teve?

BB: Fui durante 14 anos chefe dos serviços administrativos de um colégio particular no Porto, depois passei outros 14 anos numa multinacional alemã onde fui responsável pelo sector de carga aérea. A partir daí surgiu a hipótese de corresponder ao apelo de um amigo de longa data, o Rogério Gomes, que me convidou a ir para o Comércio do Porto como editor de desporto, e estive lá nos últimos 3 anos de vida do jornal. Depois de fechar o Comércio do Porto, estive no Porto Canal, e apesar de fazer várias coisas paralelamente, agora dedico-me à comunicação social.

MP: Começou a sua carreira no jornalismo logo após o 25 de Abril. Como foi começar num ambiente de liberdade que antes não existia?
BB: Foi giro. Acho que o jornalismo sempre esteve ligado a alguma contestação. O jornalista antigo era visto como um boémio, de cabelos compridos que andava sempre de boina, era o jornalista que escrevia e que estava até altas horas da madrugada, não só a escrever e a fechar o jornal, mas depois na convivência com os amigos nas celebres tertúlias jornalísticas, e que durante o dia quase que só dormia. A seguir ao 25 de Abril, com o boom que se deu nos jornais, havia muita gente nas redacções e foi aí quando eu comecei. Foi a minha fase de aprendizagem, onde havia liberdade para se escrever, e onde creio que se ganhou na riqueza da linguagem. Contudo, acho que se perdeu um pouco aquela maneira rebuscada de dizer as coisas não dizendo. Também não posso fazer comparações com o que era antigamente, apenas o sei por aquilo que os meus colegas mais antigos diziam. Eu comecei com 20 anos, nessa altura eles é que me diziam como era o antigamente, o que eles sofriam, as provas que tinham de ser revistas, os textos que eram esmiuçados até ao pormenor, enfim, são coisas que apenas ouvi contar. A vivência depois do 25 de Abril essa tenho-a, de redacções enormes, de redacções onde havia liberdade para escrever e então sim, ser criativo.

MP: Porque optou pelo jornalismo desportivo em particular?
BB: Porque sempre gostei de desporto. Na altura, tal como agora, o jornalismo desportivo é olhado quase como um parente pobre. No meu tempo dizia-se que quem vinha para jornalista desportivo era quem não sabia fazer mais nada, o que não é verdade. Quando comecei, para mim a referência era A Bola com tudo aquilo que lá havia escrito de autênticos senhores da comunicação social, o Vítor Santos, o Artur Santos, o Carlos Pinhão, todos eles com a sua maneira de escrever. O que escreviam não eram descrições, eram autênticos textos sobre jogos de futebol pelos quais me apaixonei, e como gostava de desporto consumia isso tudo. Surgiu então a possibilidade de colaborar no Norte Desportivo e foi uma oportunidade que aproveitei.
“Rádio, rádio, rádio... Rádio é diferente (...) podes estar nu a fazer rádio”
MP: Considera esses jornalistas que referiu os seus mentores?
BB: Não lhes chamo mentores, tenho-os como referências. Quando somos novos e começamos a ler e a interessarmo-nos pelo fenómeno vamos tendo algumas referências que são para mim, sem duvida nenhuma, os da antiga A Bola. O Aurélio Márcio, com quem trabalhei depois mais tarde na TSF onde ele foi também comentador de futebol e os outros que já referi, o Artur Santos que ainda hoje tem uma coluna sobre arbitragem, o Vítor Santos, o Carlos Pinhão, foram referências que me habituei a admirar a ler. Posso dizer que foi por causa deles que eu quis participar nessa tarefa que era o escrever sobre futebol, ou sobre desporto.

MP: Como foi trabalhar com esses “senhores”?
BB: Eram uns senhores. Eu andei anos a fazer o Norte Desportivo, depois fui para o Comércio do Porto onde era responsável pela página do basquetebol. A minha convivência com eles foi mais tarde e só depois de estar dois ou três anos no Comércio do Porto é que comecei a fazer o futebol e a manter contacto com eles. Quando fui para a TSF, aí já a nível de comentário, convivi mais com o Carlos Pinhão e com o Artur Santos. Era diferente olhar prós “senhores”, a única descrição que eu tenho é a de olhar prós monstros a que nós nos habituamos, vê-los ali à nossa frente e saber que eles é que nos davam aquelas prosas maravilhosas que eu muitas vezes lia e relia, principalmente quando era o caso do Vítor Santos e do Carlos Pinhão que escreviam muitíssimo bem.

MP: Como fez a sua transição do jornalismo escrito para a rádio?

BB: As coisas surgem sempre por acaso, eu creio que não há nada premeditado. Sempre fui por etapas, sempre sonhei e sempre quis tocar quase todos os cordelinhos do jornalismo desportivo, quer a nível de rádio, quer a nível escrito, quer a nível de televisão, e fui projectando a minha vida nessa direcção. Houve um jogo particular, no estádio do Bessa, da selecção nacional de sub-21 que eu fui ver, onde encontrei um colega meu, o João Veríssimo, que veio atrapalhado atrás de mim a dizer “é pá ainda bem que chegaste eu cá tenho que arranjar alguém para fazer o comentário para a TSF que eu não tenho ninguém!” Era o David Borges que estava a fazê-lo – o David Borges é outra das minhas referências a nível de jornalismo radiofónico – e ele precisava de alguém para o ajudar no relato. Eu disse “oh pá nunca fiz, mas faço” e foi aí que começou, acho que correu bem porque o David Borges logo a seguir convidou-me para fazer o jogo do dia seguinte, também da selecção nacional no estádio das Antas. Passadas duas ou três semanas o David Borges ligou-me e perguntou se eu queria continuar e chegámos a um acordo. Foi aí o meu começo na rádio onde estive 14 anos. A partir daí abriram-se as portas para as televisões, passei por quase todas elas, passei pela RTP, onde me iniciei, depois passei pela SportTV e pela SIC.


MP: Qual é que lhe agradou mais fazer?

BB: Rádio, rádio, rádio... Rádio é diferente, eu gosto das três, mas a rádio dá-te uma outra liberdade, é por isso que eu digo que podes estar nu a fazer rádio, não tem qualquer problema. Estás na rádio, estás a falar e estás no improviso, e eu gosto disso. Gosto do improviso, gosto do risco, gosto de coisas que falham à ultima da hora e que depois temos que meter ali as nossas bruxas, como nós dizemos na gíria, encher os nossos chouriços. Rádio é o momento, rádio ouves, falasse, passou. Eu gosto disso, gosto do risco, gosto da adrenalina e a rádio para mim é sem dúvida nenhuma a minha grande paixão.

MP: Qual foi para si o maior momento da sua carreira?
BB: Ui... Sei lá, tive tantos! O FC Porto campeão europeu em 87, estes últimos jogos também do FC Porto campeão europeu e vencedor da Taça UEFA. Jogos da selecção nacional, principalmente aqueles que tenho mais memória que foram os do Euro 2004. Também tenho recordação do jogo com a Holanda em que Portugal empatou 2-2 com um golo marcado por Figo a fazer o 2-2, não pelo próprio jogo em si, embora tivesse sido espectacular, mas pelo meu amigo e saudoso companheiro Jorge Perestrelo, que estava também a fazer o relato nas Antas e esse jogo empolgou-me pela maneira como ele fez o relato desse lance. São tantas recordações, muitas boas memórias, não tenho assim uma que se possa dizer “a mais marcante é essa.”
“Muitas das pessoas que não gostavam dele (Jorge Perestrelo) e que o criticavam na altura, depois de morto - e é isso que me vai acontecer com toda a certeza – acabaram por dizer que era um bom rapaz.”
MP: Como viveu o desaparecimento de Jorge Perestrelo?
BB: Com muita mágoa, com muita pena, como é evidente... O Jorge Perestrelo é uma pessoa sui generis, o mundo girava à volta do umbigo dele, mas era um companheiro. Todos nós sabíamos aquilo que ele era, o culto dele era o eu, o eu e o eu e em caso de dúvida, eu, eu e eu, mas era assim, o Jorge era assim. Era frontal, era correcto, aquilo que pensava dizia nos olhos às pessoas. O Jorge era incapaz de ter um problema contigo e não o dizer. Convivi com ele 14 anos na TSF. Em duas ou três ocasiões ele pegava no telefone e ligava-me a dizer: “oh meu ouvi dizer que tu disseste isto assim e assim” e eu dizia que sim ou que não, e ele “ok, era só para saber”, como ele dizia, havia “gatos enfuscados” entre nós. O Jorge não era um “relatador” de futebol, era um artista, os jogos para ele eram um espectáculo e não apenas uma simples narração. Por isso é que tenho essa imagem do jogo com a Holanda, precisamente da grande penalidade, em que certa altura estamos na cabine das Antas a fazer o jogo e quando é a grande penalidade ele começa a dizer “eu não quero ver, eu não vou ver.” Eu de repente olho assim pró lado e digo “mas então este gajo não vai ver e vai relatar isto como é que é?” e ele estava perfeitamente a olhar pró jogo. Ele não estava a transmitir apenas um jogo de futebol, estava a transmitir toda a carga emotiva que iria aparecer na transformação ou não de uma grande penalidade que podia dar ou não o empate a Portugal. O Jorge era um amigo e acima de tudo foi isso que se perdeu. Muitas das pessoas que não gostavam dele e que o criticavam na altura, depois de morto - e é isso que me vai acontecer com toda a certeza – acabaram por dizer que era um bom rapaz.


MP: Considera esse um dos piores momentos da sua vida?
BB: Sim, sem dúvida. Não tenho dúvida absolutamente nenhuma que foi, até porque não perdi mais nenhum companheiro meu. Ele sabia receber como nós recebemos no Porto, quando eles aqui vinham eu ia buscá-los, jantávamos juntos, almoçávamos juntos, muitos poucos fizeram aquilo que o Jorge me fez quando ia a Lisboa. Quantas e quantas vezes fui fazer jogos a Lisboa e a única pessoa que se preocupava e que dizia “onde é que andas”, “oh meu anda cá ter comigo”, “vamos almoçar”, “vamos jantar”, era ele, era o único. Por isso lhe devo muito, porque retribuiu aquilo que eu também lhe dei aqui. Foi o único que desapareceu enquanto eu trabalhava, é por isso que me lembro e que fica uma mágoa muito grande de ver desaparecer um amigo e um talento do relato.

MP: Estava no Comércio do Porto quando o jornal encerrou. Como viveu esse momento?

BB: Foi um momento triste, é sempre um momento triste quando acaba uma coisa da qual nós fazemos parte. Foi um momento conturbado, não tanto para mim, mas para muita gente que ali trabalhava foi um drama, porque não tinham horizontes de saída e esse é o grande trauma da profissão hoje em dia. Se antigamente ainda se podia saltitar de um jornal para outro, hoje estamos completamente engaiolados, porque temos três grandes grupos, e hoje em dia trabalhamos para todos. O jornalismo é assim, não há muito a fazer, não há muito por onde batalhar, mas na altura foi mau precisamente por causa disso. O próprio dia foi um dia muito triste, foi um dia muito sentimental porque havia gente que estava há muitos e muitos anos naquele jornal e a que lhe dedicaram uma vida.

MP: Quais foram os melhores e os piores momentos da sua vida?

BB: Costuma-se dizer que a vida de um homem é escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. A morte do meu pai foi o momento que mais me marcou, foi com ele que aprendi a ir ao futebol, que aprendi a ver o futebol e foi ele que me levou ao primeiro jogo de futebol e a morte do meu pai [pausa] marcou-me, obviamente. Já momentos alegres, há tantos, mas creio que o mais marcante foi o nascimento do meu filho e o poder acompanhá-lo durante este tempo todo conforme o tenho feito, apesar de todas as vicissitudes e de às vezes sermos obrigados a não estar presentes em algumas situações. Procuro estar presente, até pelo próprio percurso que ele tem, que é um percurso fantástico. Tem 16 anos, é um excelente aluno e é para isso que eu trabalho, para que ele tenha o seu sucesso. É ele o meu momento mais feliz.


MP: Sente que o seu pai foi o modelo no qual baseou a sua vida?

BB: Pelas coisas boas e pelas coisas más... sim. O meu pai teve uma vida bastante atribulada, mas muito daquilo que não se deve fazer, aprendi com ele, e muito daquilo que se deve fazer, também aprendi com ele. O meu pai era caixeiro viajante, que é um homem que anda com as malas dentro do carro na área dos têxteis a visitar vários sítios e a vender. Essa foi a vida do meu pai durante muitos anos, saía à segunda-feira e vinha à sexta-feira e por isso era um pai um pouco ausente. Quando estava connosco era um pai marcante porque deixava sempre todas as posições normais do dia-a-dia para a mãe, porque era ela que nos acompanhava quer a nível de estudos, quer a nível do resto, e ele tinha uma certa relutância em chegar a casa e ser o “castigador”. Por muito que a nossa vida profissional nos obrigue a estar ausentes, temos que estar sempre por perto. Na fase do Comércio do Porto, tinha que fechar o jornal e estava lá até à meia-noite, depois ia jantar e chegava a casa às duas da manhã, quando o meu filho já estava a dormir. Se eu fizesse a minha vida de jornalista normal não o via, de maneira que durante esses três anos levantei-me sempre às sete e meia da manhã, para o deixar no colégio às oito e meia e depois ir à minha vida, fosse ela qual fosse. Foram esses os ensinamentos, da ausência do pai durante a semana, não digo maus, mas menos bons. Mas também houve ensinamentos bons que o meu pai procurou dar ao longa da sua vida, principalmente a honestidade, a credibilidade, o sermos nós próprios, não tentarmos imitar ninguém, é isso que eu quero fazer e é isso que tenho feito.

MP: Nasceu em Vila Real, mas veio aos 3 anos para o Porto. Sente-se mais tripeiro do que transmontano?
BB: Não, não, não. Gosto muito do Porto, foi a cidade que me acolheu, é a cidade onde eu trabalhei, onde eu estudei e é a minha cidade também, mas sou muito transmontano. As minhas raízes sempre foram essas, gosto daquela gente, gosto muito da maneira que ela pensa, da maneira que ela sente. Neste momento trabalho em Vila Real, numa empresa de organização de eventos, mas vou e venho quase todos os dias. Gosto de voltar às raízes e gosto de sentir aquele cheiro da montanha, o cheiro da lareira, o cheiro daquele fumo... É muito peculiar e muito tranquilo, não há tanta correria, nem tanto stress, como há aqui no Porto.

MP: O que faz para descontrair?

BB: Vejo muito cinema. Muito daquilo que eu aprendi a nível de línguas foi precisamente por ouvir os filmes e tentar tirar o sentido daquilo que eles diziam. Gosto muito de estar a ver o filme e a ouvir o diálogo comparando-o com aquilo que está a ser traduzido. Também gosto de ouvir música e de ler. Já tive mais apetência para ler, desde há uns anos a esta parte quase que só leio aquilo que é obrigatório. Antigamente lia um livro numa noite, se ele me interessava. Nunca me hei-de esquecer que com 20 e poucos anos, em duas noites consegui ler A Viagem ao Mundo da Droga de Charles Duchaussois, um livro que me marcou na altura, estamos a falar há 30 anos atrás. É um livro que aconselho e que mesmo hoje é útil. Fala sobre a vivência de uma comunidade, mas principalmente de uma miúda que andou metida no mundo da droga – isto há 30 anos onde não se sabia o que era isso e onde não se falava disso. Hoje tenho vários livros em cima da mesinha de cabeceira, leio umas páginas de um e umas páginas doutro. Neste momento estou a ler uma colectânea de textos de um colega meu que trabalhou no Comércio do Porto comigo, Braga do Amaral que está na Régua, de onde é, à frente da revista Tribuna de Ouro e que fez uma compilação dos seus textos chamada Somos Nós. Também gosto de andar na net, é um vício hoje em dia, quem não anda lá?
“Se não procurasse dar saltos, se não procurasse o risco, o fim poderia não ser o mesmo, portanto não estou nada arrependido daquilo que fiz.”
MP: É um portista confesso. É difícil manter a imparcialidade quando está a relatar um jogo do seu clube?
BB: É difícil, é, mas procuro fazê-lo. Nunca me preocupei com isso, nós somos aquilo que somos, podia ser da Académica, podia ser do Vila Real que é a cidade onde eu nasci, podia ser de muitos clubes, sou do clube que sou. Quem gosta de futebol, quem gosta de desporto, escolhe um clube e gosta dele. A partir daí aconteça o que acontecer é o nosso clube, é o clube que nós gostamos, é o clube que nós amamos. Infelizmente neste país não é possível para quem esteja a trabalhar no meio assumir-se e dizer qual é o seu clube. Normalmente quem assume que tem um clube deixa de ser ouvido da mesma maneira que o era antes. O meu registo ao longo dos anos é este, há quem diga que goste e quem não goste, mas eu também partilho a máxima de José Maria Pedroto que dizia: “não importa que falem mal ou bem de mim o importante é que falem.” Mas creio que nós devemos procurar ser isentos e transmitir a realidade.

MP: É co-autor do livro Mui Nobre e Sempre Invicto Clube do Porto, juntamente com Rémulo Jónatas. O que o levou a escrever esse livro?

BB: Escrevi o livro porque quis fazê-lo e porque tinha que o fazer, foi uma aposta que fiz. Mas muito sinceramente não é o livro que eu queria escrever. Já tive um desafio por parte do meu amigo Francisco José Viegas. Nas nossas tertúlias depois do programa da NTV, comendo o nosso preguinho do Bonaparte na Foz, falávamos sobre tudo o que eu vivia à custa dos jogos, as peripécias, a ida prós jogos, as viagens, tudo isso. Numa ocasião ele disse: “isso é giro, escreve um livro sobre isso, sobre as tuas vivências, os teus 20 melhores jogos.” Um dia lá mais para diante quando já estiver de chinelinhos e roupão, sentado no sofá em frente à lareira sou capaz de me debruçar sobre isso e escrevê-lo.


MP: Acha que conseguiu concretizar os seus sonhos de infância?
BB: Algumas coisas sim. Quando chegamos a esta idade olhamos para trás e dizemos assim: “o que é que eu mudaria na minha vida?” Muito sinceramente, e apesar de ter feito algumas asneiras e de algumas atribulações que tive, não mudaria nada. Estou plenamente satisfeito com aquilo que fiz, com aquilo que alcancei, com aquilo que realizei e com aquilo que ainda quero fazer. Ainda tenho muita ambição, apesar da idade, ainda quero fazer muita coisa e quero ser aquilo que eu sempre fui, igual a mim próprio. Quando nós chegamos a esta altura, chegamos precisamente aqui porque tudo o que se passou foi vivido de um certo modo, se estivesse adormecido no marasmo que estava, se não procurasse dar saltos, se não procurasse o risco, o fim poderia não ser o mesmo, portanto não estou nada arrependido daquilo que fiz.

MP: Que objectivos ainda espera alcançar?
BB: Ainda quero viver muitos anos, tenho 53 mas quero viver muitos. Não quero ser pesado, não quero que as pessoas me chamem chato, mas ainda acho que tenho muito para fazer, muito para dar, muito para aprender e muito para viver. Sou um homem de paixões, a minha vida é uma paixão, eu gosto da paixão e só faço as coisas quando estou apaixonado. Está-me a dar um gozo bestial trabalhar lá em Vila Real na área de organização de eventos, dá-me muita paixão fazer isso. Se calhar só por paixão é que vou a Vila Real quatro ou cinco vezes por semana. Ainda me falta escrever o tal livro, aquele dos meus 20 melhores jogos, estou a começar a pensar nisso a sério, vamos ver.

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